terça-feira, 14 de agosto de 2012

Crescente

Sei que andei sumida. Mas estou com saudade de escrever, então resolvi dar uma passada por aqui.
Nos últimos tempos, desde que parei de postar, muita coisa aconteceu. Pra resumir: fui aceita num programa de mestrado em performance e estou estudando de novo, só que nos Estados Unidos. Cheguei aqui na semana passada e ainda estou me adaptando, ao ambiente, ao ritmo de estudo que eu já tinha perdido, à língua. Cheguei a pensar em fazer outro blog, em inglês, para treinar minha escrita em inglês, só que chegando aqui eu percebi que já vou ter papel suficiente pra escrever em inglês nas aulas. Cheguei a pensar em fazer outro blog pra ficar me lamentando da minha solidão, mas na verdade tive muita sorte de me cercar de gente legal assim que cheguei aqui e conseguir manter contato com os amigos e amados do Brasil, sem grandes choques. Então acho que vou simplesmente continuar a escrever aqui, esporadicamente, do mesmo jeito que eu fazia antes. Ainda acompanho o que acontece no Brasil (virtualmente, é claro, mas acompanho) então acho que não vou viajar demais.
O lugar vazio é onde eu estava sentada antes de levantar para tirar a foto (destaque para o agora inseparável Webster's)
Então, só passei pra avisar que estou viva e que vou passar por aqui de vez em quando. Recado tá dado.
Abraços :)

segunda-feira, 7 de maio de 2012

sobre anticoncepcional injetável

Hoje é a Segunda Vermelha, dia que se celebra a menstruação.Como já escrevi sobre coletores/copinhos menstruais, resolvi postar mais uma parte do post sobre anticoncepção que escrevi, que acho que está ligada a esse assunto de alguma forma.
A conversa é sobre anticoncepcional injetável, supressor da menstruação - porque, pelas conversas com amig@s, parece ser o anticoncepcional sobre o qual as pessoas mais têm dúvidas e preconceitos, e por mexer com a relação que as mulheres têm com a menstruação.

Fiquei quase três anos sem mestruar, na adolecência. Senti falta e voltei, e hoje eu tenho uma relação quase mística com esse período, que pra mim é de recolhimento, de contato com o corpo. Mas tem mulher que sofre que nem um bicho por menstruar, sente dores horrorosas, incapacitantes, e fica meio maluca com TPM. E se a ideia é desmistificar a menstruação, tem que acabar também a ideia de que a menstruação é uma condenação para o sexo feminino, que tem que ser uma obrigação, por maior que seja o sofrimento. Se você não quer, não gosta ou simplesmente sente que deus errou na conta e você não deveria menstruar, tem que saber que existe tecnologia médica para suprimir a menstruação sem riscos para a saúde, sem problemas para a sua fertilidade ou feminilidade, sem "fazer mal".
Existem mais mitos ainda sobre os anticoncepcionais injetáveis do que sobre a pílula, sendo que os efeitos colaterais e riscos à saúde são basicamente os mesmos dos outros métodos hormonais. Especulação existe muita, mas provas e ciência de fato, muito pouca. A maioria das pessoas que condena a supressão da menstruação que eu conheci tinham como principal argumento "não é natural". Quer dizer, né. Dá pra condenar qualquer conquista, qualquer nova tecnologia, com esse argumento.
 
Usei Depo-provera trimestral por dois anos e meio, e foi uma relação de amor absoluto. Só parei de usar por dois motivos: porque tenho contra-indicação médica para uso prolongado, por problemas circulatórios na família, e porque fiquei com saudade de menstruar.

O que posso dizer de vantagens:

- é mais seguro. A margem de falha é menor na bula, e não existe margem para falha humana, como em outros métodos (não tem possibilidade de pular um dia, ou de colocar errado).
- é mais prático. Você não tem que carregar pra onde for, nem tem que cuidar horários.
- é (relativamente) barato. eu gastava no máximo trinta reais para uma aplicação que durava três meses. Hoje em dia gasto quase isso por cartela de pílula...
- não engordei. pelo contrário, foi no período que tomava que consegui emagrecer.
- não tive espinhas, problemas na pele, ressecamento/quebra de cabelo ou unhas, nem nada assim...
- não senti diminuição da libido.
- não tive alterações de humor. ...a menstruação some, então a TPM vai junto.

O que pode ser desvantagem:

-a aplicação... - às vezes é difícil achar um@ profissional de confiança que faça a injeção bem feita. Aplicando em hospital nunca tive problemas, mas aplicando em farmácia, já aconteceu de eu ser atendida por pessoas inexperientes (ou profissionais mal-capacitados mesmo, sei lá) e ficar com dores depois da aplicação, com hematomas... Já paguei também valores estranhos (tipo sete reais pra aplicar uma injeção - normalmente é 3 reais em média)...
- "sangramento de escape" - digamos que o corpo demora para se acostumar a não menstruar. Você pode imaginar o que acontece. Posso te dizer que não acontece como uma menstruação normal, não tem acidentes na roupa ou cólicas nem nada assim, é mais uma chateação mesmo.
- não menstruar - dependendo da sua relação com a menstruação, não menstruar pode não ser tão bom assim. Por exemplo, você não tem a segurança de saber, com aquela certeza absoluta, que não está grávida. Também não tem o período mensal de recolhimento que a menstruação te obriga a ter. 



Enfim. Acho que pode ajudar alguém haver esse relato pessoal, porque pelas minhas pesquisas muitos links indicam que aumento de peso e acne são efeitos diretos da injeção, entre outras informações incorretas. Depois que saírem, linko alguns textos legais sobre a segunda vermelha aqui. Abraço!

quinta-feira, 26 de abril de 2012

das discussões sobre cotas

Nunca tive uma discussão sobre cotas em que a parte "contra" não acabasse denunciando um racismo raivoso em algum ponto da conversa. Da última vez, uma criatura teve a capacidade de dizer que os negros "tem vantagens e ainda querem que aceitemos que eles são evoluídos". Juro. Foi triste. Mas mais triste é se sentir obrigada a continuar a conversa. Explico.
Hoje, o STF declarou constitucionais as cotas raciais - depois de não sei quantos anos de cotas nas universidades - uns dizem que a primeira foi em 2004, mas li no twitter alguém falando em 2002. Quase dez anos. Então, tem muita gente incomodada, repetindo por aí os velhos argumentos contra ações afirmativas.

STF ontem. Imagem de http://migre.me/8QNrH
Nessa história se pode falar de evolução também. Evolução, segundo Darwin, é um processo que depende da adaptação da espécie às condições do meio. Não sou muito boa em biologia, mas é isso, né? Então. Aqui, enquanto algumas pessoas preferirão ficar anos espumando raivosamente pela perda de um privilégio, outr@s têm capacidade de mover o olhar para o presente e se adaptar.
Para alguns, a decisão do STF sentencia que os negros estarão agora oficial e legalmente tirando vaga dos brancos, e quem é racista de coração não vai nem tentar ver a coisa de outra forma. Mas nem todo mundo é racista de coração, felizmente. A maioria só repete o senso-comum. E é senso comum achar normal haver poucos ou pouquíssimos negros em espaços de poder - seja esse poder expressado por postos de trabalho altos, por ideias ou pela educação - e pensar que essa situação é culpa das vítimas (assim como também é senso comum se opor a mudanças no senso-comum, é o instinto de sobrevivência da bactéria). Discriminação pura é tacanhice, está engessada. Mas a repetição do senso comum pode ser questionada.

Haverá cada vez mais negros na universidade - nas salas de aula, e não limpando o chão ou cuidando da portaria - e todos terão que respeitá-los. No futuro, racistas ou não terão que obedecer mais negros, que estarão mais frequentemente em postos altos, e não poderão se revoltar por receber salários menores do que os deles. Terão que ver escolas de províncias, de favelas e de aldeias indígenas melhorando, ganhando professores conhecedores da realidade local e bem formados em universidades de qualidade... O horror, né? É a evolução da cultura, da sociedade. Questionemos nosso racismo velado e nos adaptemos, ou pereceremos.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Marchando contra a corrupção? Conte-me mais...

Enquanto acontecia o Fórum da Liberdade (hahahaha) em Porto Alegre, a classe média mobilizada pelo facebook e pelo twitter marcha "contra a corrupção", assim genericamente, em várias partes do país. Fiquei com algumas dúvidas.

- Se alguns coletivos ligados a partidos que apoiaram a marcha são justamente alguns dos que estão no topo da lista de partidos com maior número de cassações feita pelo TSE, contra a corrupção de quem esse povo está marchando?

- Corrupção = mensalão e dinheiro na cueca. Ok, é mesmo. Mas e a lentidão pra resolver/investigar a "crise" do judiciário, tá ok? Mídia comprada tá ok? Sonegação do papai tá ok?

- Será que a mídia terá cara de pau para chamar manifestantes de esquerda de arruaceiros que precisam do controle da polícia depois de sua própria marcha ter acabado em porrada? Sim ou com certeza?

- Foram jovens "anonymous" mobilizados via evento de facebook que pagaram os panfletos de papel brilhante divulgando a marcha que povo diz que tava recebendo? Quando as notas fiscais vão estar no álbum do evento?

Se alguém souber de alguma coisa me dá um toque! Obrigada.

6 itens para lidar melhor com a divisão de tarefas domésticas - para mulheres

Uma das coisas que não mencionei, em nenhum dos textos (nem nesse nem no anterior) foi a possibilidade de algumas pessoas de manter empregada doméstica (tem um texto legal sobre isso aqui). Só porque quando estou escrevendo penso em mim mesma em gente jovem que provavelmente está começando a vida, morando sozinh@, universitário, estagiário, com pouco dinheiro... E admito que não abri muitas possibilidades para casais não-hetero, principalmente porque imagino que na relação homem-mulher esses papéis sejam mais "subentendidos" e menos discutidos (pode ser preconceito meu também).

Apesar disso a lista para as mulheres é tão longa quanto a dos homens, ainda que tenha menos itens (é, tenho que aprender a fazer posts mais curtos...). Fiquei revisando por dias pra ver se não deixava nada de fora, mas acho que, talvez por eu ser mulher e já ter vivido essa situação de vários pontos de vista/papéis diferentes, me pareça tão multifacetado que é difícil abarcar todas as possibilidades. Escrevi o que lembrei.




1. Não queira ser super-mulher. Ter jornada dupla ou tripla não é seu dever "natural" por você ter nascido com uma vagina no meio das pernas. Os tempos mudaram e os papéis não são mais fixos. Se antigamente só os homens trabalhavam e as mulheres só cuidavam da casa, agora ambos podem transitar entre os dois papéis. Apesar disso, algumas pessoas tentam de alguma forma manter aquele sistema antigo, incluindo o trabalho na vida da mulher sem equilibrar a balança - e pior, tem gente que diz que quem fez isso foi o feminismo! Gente, quem faz isso é o machismo. Quem diz que você tem que ser excelente em tudo o tempo todo para ser considerada tão bem-sucedida quanto um homem comum, que faz apenas suas tarefas normais, só pode ser um sistema que vê as mulheres como inferiores. Mas você não precisa concordar com isso!

2. Dê valor para o seu tempo. Temos só 24h por dia e um limite de energia - e são essas poucas horas e essa energia limitadas que tod@s têm que distribuir entre dormir, ir na academia, socializar, fazer sexo, estudar... E, entre outras coisas, limpar e arrumar a casa com perfeição de capa de revista de decoração. São raros os dias em que dá tempo de fazer tudo com qualidade. Se pergunte qual dessas coisas é mais importante fazer com qualidade, para você. Em que vale mais a pena gastar o tempo livre.

3. Não seja escrava de si mesma (vulgo a neurótica da limpeza).
 Aqui no Brasil, boa parte d@s don@s de casa de classe média-alta têm uma escrava empregada apenas para limpar a casa. E aí sempre ouvimos que se cada canto da casa não estiver limpo, polido e desinfetado, é porque a empregada é relaxada, né? Mas dentro da sua casa, se você não está sendo paga, quem está te cobrando perfeição? Esse "patrão" te dá alguma compensação além de estresse?

4. Enxergue, e faça os outros enxergarem, que tarefas domésticas SÃO trabalho. As tarefas relacionadas à intimidade sempre foram desvalorizadas, mas só quem faz faxina todo dia sabe quanto é cansativo. Se você está sobrecarregada, não precisa de dicas de revista para lidar melhor com as jornadas múltiplas, e sim da ajuda das pessoas que estão ao seu redor. O senso comum diz que mulheres são mais perfeccionistas, e que homens "não sabem fazer serviço de casa" - criando donas de casa controladoras, centralizadoras - só que isso não é exatamente verdade. Entenda, e faça seus colegas ou sua família entenderem, que mulher também é gente.
4a. Não veja o serviço doméstico como um favor que você faz à sua família/colegas. Fazer o serviço dos outros por eles não vai necessariamente ser reconhecido como um favor. Muito menos será um favor retribuído... E isso não é porque os outros são ingratos, e sim porque... Você fez porque quis, mesmo.

5. Diminua o estresse do dia da faxina. Tente não se aborrecer (e não aborrecer os outros) por achar que o jeito deles fazerem suas tarefas não está "certo". Claro que sugestões podem ser feitas, mas se tem que ter delicadeza: @ outr@ também tem sua cultura, viu a mãe fazer daquele jeito, etc. E se você acha o trabalho da pessoa lento demais, pode ser que el@ ache que você não está caprichando, por estar fazendo rápido, por exemplo. No fim, quem está certo? Ninguém.

6. Esteja disposta a ensinar. 
Se você convenceu a criatura a te ajudar, seja paciente com a falta de hábito (e com uma eventual má-vontade) del@. Nas primeiras vezes que a gente faz qualquer tarefa, ela sempre parece mais cansativa, mais longa e mais difícil. E ter alguém ralhando não é exatamente um estímulo. Se a criatura em questão nunca fez uma faxina na vida, é mais culpa da família e da sociedade que @ educou assim do que del@ própria.

Espero que seja aproveitável! Sugestões, discordâncias, adendos, comentários, são bem-vindos.
Boa semana!