segunda-feira, 5 de abril de 2010

Faça amor, não faça pornografia

Um site que topei essa semana, e recomendo (em inglês): www.makelovenotporn.com
Em tradução livre, é o título do post: faça amor, não faça pornografia. Fala, em pequenos posts ilustrados, das diferenças entre o sexo que é exibido nos filmes pornôs e o sexo que a gente faz, sexo com intimidade, sexo de verdade.
O que mais me agrada nele é que não é mais um apelo sentimentalista, de gente reclamando dos relacionamentos superficiais, que as pessoas não têm amor no coração, e bla bla bla...
O ponto do site não é se queixar do comportamento dos outros, e sim olhar para a saúde da nossa relação conosco mesmo, com o próprio sentimento/sensação. Vale a visita!

Ao mesmo tempo, dei de cara com um excelente artigo (embora longo - também em inglês) sobre a influência da pornografia na sexualidade. O artigo começa com excertos de uma entrevista com um homem, de idade perto de 40 anos, que afirma ter dificuldades de ter relações íntimas com pessoas do sexo oposto. Diz ele que estudou a vida toda em colégios só para meninos, e o principal contato que tinha com mulheres era olhando, escondido é claro, as revistas e filmes pornô que seu pai colecionava, também escondido.
Uma das falas que mais me impressionou é quando ele descreve como um dia percebeu que fazia sexo "se vendo de cima", ao invés de sentir a plenitude da coisa. É doentio, mas pensando bem não é incomum: o cara via o processo todo como uma questão de performance, e não de sensação. Tipo: o prazer maior viria de você saber que o parceiro te acha bom de cama, e não do prazer ou do(s) orgasmo(s) em si. O maior fracasso não seria não ter orgasmo, e sim não conseguir fingir que está excitado até o parceiro conseguir gozar.

É claro que esse cara é um extremo, mas eu pude ver pontinhas de muita gente nele, inclusive minhas. O que mais eu vejo por aí, especialmente na internet onde o povo fala a merda que quiser sem necessariamente se comprometer, é gente virgem ou com pouca experiência sexual já se achando incompetente para o sexo.
E com certeza muito disso é culpa dessa idéia absurda que temos sobre sexualidade "performática".
Nos meninos isso se traduz em várias formas de violência; me parece que daí nascem todos os misóginos sem auto-estima, desde aqueles que falam que "mulher só gosta de homem com carro" até os que se cobram "honra masculina" se referindo a mulheres e ao casamento pejorativamente. Eu pessoalmente acredito que esses caras pouco tentaram "chegar junto" nelas. Afinal, a idéia que a pornografia hardcore reforçou para a minha geração é de que se você prestar, as mulheres vão começar a gemer só de te olhar. É uma das consequências da mesma causa que leva alguns caras a não entender a necessidade de preliminares. Ora, ela não fica excitada só de encostar em mim? Como assim?
Nas meninas a opressão é outra; elas sentem culpa, para variar. As mulheres dos filmes são máquinas de fazer sexo. Estão sempre excitadas, sempre têm orgasmos ruidosíssimos, e não precisam de preliminares nem de contato com clitóris para isso (sem falar do sexo anal e de depilação total, que todas adoram e não vivem sem, e do carinho que todas dispensam). Quem consegue ser assim? Algumas tentam, outras (muitas) simplesmente negam que sentem desejo.

Muita gente acha que só existe uma forma certa de sentir as coisas; se você não gosta daquele jeito, é um desajustado e não merece ser feliz. Muita gente engole isso tudo sem questionar, passa a vida se achando um lixo e ainda acha que deve cobrar dos outros essa virtude que nem sabe se existe, discriminando gente igual a si próprio, pelos mesmos motivos que é discriminado. Você conhece alguém assim, tenho certeza.
Aí fico me perguntando, quem está ganhando com todo esse jogo?

Um comentário:

dan disse...

ando meio assustado com isso tudo que vc citou. outra coisa que acho estranho é o tanto de mulheres machistas, que repetem discursos absurdos, muitas vezes diminuindo elas mesmas.

lindo blog, excelente post!