segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Dia da Consciência Negra, dos outros e de mim mesma

Depois de ler vários posts, notícias, colunas lindas sobre o Dia da Consciência Negra, me inspirei para escrever o meu. Um dia depois da data, eu sei, mas repensar o preconceito é algo para se fazer todos os dias, né?
Deu para atender à chamada das Blogueiras Feministas para uma blogagem coletiva sobre o dia. Aqui está o link com todos os textos!

De uma certa forma, me sinto um tanto intrusa para escrever sobre isso, já que sou branca branquela, descendente de alemães, e me criei em um meio familiar que várias vezes percebi racista.
Porém, a consciência negra tem a contrapartida de que posso falar com alguma propriedade, que é a consciência de ser brancx. Calma, não precisa parar de ler, não vou escrever nenhuma bobagem sobre preconceito racial contra brancos. Estou falando de perceber-se branco, perceber que isso é uma diferença e não "o normal" e que sim, eu sou privilegiada por isso.

Essa consciência não é fácil de construir porque é feita de coisas bem subjetivas. Se você é brancx, você pode passar a vida sem precisar pensar em sua "raça", porque existe por aí uma percepção de que ser branco é o normal, "neutro", enquanto o negro é que é diferente. Basta observar a reação das pessoas com, por exemplo, campanhas publicitárias: se tem gente branca no comercial de cosmético, vão prestar atenção no cosmético. Se tiver gente negra, vai aparecer a questão racial, a responsabilidade da marca, "oh, se preocuparam em colocar um negro, eles tem consciência social". (não vou falar dos que falam merda racista porque né.). Acho que só o fato de as pessoas perceberem com alguma estranheza aparecerem negros fora do estereótipo pobre-trabalhador/jogadordefutebol-pagodeiro já indica que algo não está certo.
Fora que se você é brancx, nunca vai acontecer de alguém atravessar a rua pra não passar do teu lado, você não passa a vida ouvindo que seu cabelo é ruim, ninguém pensa, de cara, que você é pobre, se você fizer alguma bobagem ninguém vai dizer que branco só faz bobagem!. Etc etc etc... Talvez o maior privilégio dxs brancxs não é o que temos, mas é o que não nos é subtraído. Quer dizer, são obstáculos a menos que temos que enfrentar, é um privilégio fácil de ficar invisível.

Ontem, fui a um ensaio de escola de samba pela segunda vez na vida, da Acadêmicos da Orgia, de "gaiata". De começo, quando entrei, me senti muito estranha no ambiente, porque era muito mais branca do que todxs lá, em sua maioria negrxs e mulatxs. Só não fiquei intimidada ( = mais tímida do que já sou) porque estava bem acompanhada e porque fui muito bem recebida por todxs - no fim, saí de lá me sentindo como quem volta de uma festa de família. Se pra mim aquela sensação inicial já foi algo marcante, não posso nem imaginar como os primeiros negros se sentiram entrando na primeira universidade que decidiu aceitá-los, por exemplo. Chega a ser absurda a comparação, né? Acho que discriminação racial é algo que uma pessoa branca não tem como compreender totalmente, ou pelo menos não essa branca que vos fala. Só posso admirar muito aqueles pioneiros e todos que os seguiram, e esperar que a recepção seja cada vez melhor, ou seria menor? - até que, um dia, ninguém se surpreenda de ver negros, brancos, índios, todas as variedade de pessoa, em todos os lugares e situações.


Só para terminar o post em alto estilo, quero postar uma música lindíssima que inclusive já postei aqui no blog, mas que agora posto não só pela beleza do clipe e pela qualidade da música, mas também pela letra:


Brown Skin - India Arie  
(Chorus)
Brown skin
You know I love your brown skin
I can't tell where yours begins, I can't tell where my ends
Brown skin Up against my brown skin
Need some every now and then  
Where are your people from
Maybe Mississippi or Atlanta
Apparently your skin has been kissed by the sun
You make me want a hershey's kiss your licorice
Everytime I see your lips
It makes me think of honey coated chocolate
Your kisses are worth more than gold to me

I'll be your almond joy, you'll be my sugar daddy
Brown skin, you know I love your brown skin
I can't tell where yours begins
I can't tell where mine ends
Brown skin, up against my brown skin
Need some every now and then  
Everytime you come around
Something magnetic pulls me and I can't get out
Disoriented I can't tell my up from down
All I know is that I wanna lay you down
Everytime I let you in
Abra Cadabra Magic happens as we swim
Higher and higher finally we reach heaven
Come back to earth then we do it all again (yeah)  
(Chorus)
(Bridge)  
Skin so brown, lips so round
Baby how can I be down?
Beautiful Mahogony you make me feel like a queen
Tell me what's that thing you do
That makes me wanna get next to you?
          (tradução aqui!)



Delicie-se! :D
Abraços.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

A USP e os mimados do facebook

Aquela confusão da USP que aconteceu há um tempo atrás, da qual eu nunca me informei totalmente (já falei que não confio em jornalista e que não digo que estou por dentro de alguma coisa até ler em umas três fontes diferentes? Sim, sou chata) já parecia estar morrendo na praia, quando surgem vários comentários, fotos, scans de reportagem da veja (!) na minha timeline, sobre os mimadosquefazemrevoluçãocomdinheirodopapai da USP...

Não vou falar sobre o caso porque, como já disse, não me sinto bem-informada o suficiente. Ando defendendo os estudantes só de birra, porque odeio demonizações assim. Cadê o outro lado da história? Porra, começou com três usuários de maconha e terminou com 70 presos. Setenta! Fazem isso nos pontos de tráfico, nas casas de prostituição, nos becos escuros da cidade?
Enfim. Meu assunto é outro.

Minha timeline normalmente é bem previsível. A grande maioria, 90% no chute, são colegas músicos e professores de música erudita, ou artistas de alguma outra área afim. É gente em geral libertária e cabeça aberta, a favor dos direitos humanos, dos direitos dos animais (tem VÁRIOS ativistas de direitos dos animais), mas não muito politicamente ativa (para o bem ou para o mal). Não que sejam ignorantes, mas a regra é aquela coisa senso-comum de que político é tudo corrupto, nenhum presta, etc etc, ou então simplesmente estão muito ocupados com estudo e trabalho pra pensar nessas coisas "tão distantes"... O legal é que posso postar minhas coisas subversivas (entre muitas aspas) sem queimar meu filme me preocupar, porque não tenho nenhum colega assumidamente conservador - graças a Bach não é legal no meu meio se mostrar homofóbico, racista, machista, etc, como sei que é em outros lugares. As pessoas pelo menos fingem ser corretas e inteligentes.

O chato de não gostar de política é ser influenciável, por não conseguir enxergar quais são e de onde vem as intenções por trás das palavras. Gente que até ontem não se importava, de repente está tomando partido. Qual partido? O primeiro que chegar falando bonito.

Foi uma sacada ótima da Veja colocar os estudantes da USP como "mimados". Juntou a raiva que as pessoas que viram tropa de elite I mas não gostaram do II têm dos maconheiros e drogados riquinhos - não estou dizendo que o usuário não tenha nada com isso, mas e o governo que não dá outra oportunidade pra piazada? E a educação que é falha? E a falta de emprego? E a própria cultura do "jeitinho? Nada disso conta? - com a consternação que alguns sentem diante da onda de ativismo cibernético que ganhou força esse ano blogs e redes sociais afora, que está incomodando muita gente.

Acho que para os que querem acreditar que são seres muito especiais, ao invés de só uma pecinha a mais na sociedade, deve ser bem chato ver gente fazendo alguma coisa pra melhorar seu entorno. Que saco, essa gente acha que vai mudar alguma coisa? Atitudes pequenas e simples já dão um desconforto de ver no noticiário, imagina ações grandes! Aí chega a Veja e diz: O cara que faz o motim lá, ele é um merda. Ele é maconheiro, ele odeia a polícia. Ele é hipócrita, ele se arrisca pra defender coisas sem nem saber o que (riolitros). Ele... que mais? É burro, bobo, feio, cara de melão. Se você também vive do dinheiro do papi, mas gasta tudo em balada e roupa de marca, tudo bem, pelo menos você não é um deles, ponto pra você.

Né? Grande sacada.

Eu também já pensei que tudo o que se tem que fazer é cuidar do próprio umbigo e esperar os bons resultados aparecerem. Que o lugar e a posição onde as pessoas estavam era fruto unicamente do esforço ou da falta de esforço delas, e que fazer algo pela coletividade é ficar pra trás, é perder um tempo que você poderia usar para investir em si mesmo. Mas algo no caminho me sensibilizou para ver que existem alguns outros detalhes (raça, gênero, idade, religião, "berço"... pra muita gente não é detalhe, infelizmente) que podem frear ou alavancar a vida das pessoas, e que essa situação pode e deve ser modificada. Se eu achasse que saberia o que fazer - algo mais razoável e eficiente do que o que me dá vontade (sair gritando de raiva e sacudindo as pessoas que não empatizam não adiantaria muito, né?) - eu saía por aí fazendo revolução também, pode apostar. Ando tentando fazer minha parte, discutindo, conversando, me metendo por aí. Tenho tudo pago, e se não tivesse, não teria tempo para nada disso, é verdade. Mas o problema disso é qual mesmo? É você se sentir fútil e vazio?