terça-feira, 8 de novembro de 2011

A USP e os mimados do facebook

Aquela confusão da USP que aconteceu há um tempo atrás, da qual eu nunca me informei totalmente (já falei que não confio em jornalista e que não digo que estou por dentro de alguma coisa até ler em umas três fontes diferentes? Sim, sou chata) já parecia estar morrendo na praia, quando surgem vários comentários, fotos, scans de reportagem da veja (!) na minha timeline, sobre os mimadosquefazemrevoluçãocomdinheirodopapai da USP...

Não vou falar sobre o caso porque, como já disse, não me sinto bem-informada o suficiente. Ando defendendo os estudantes só de birra, porque odeio demonizações assim. Cadê o outro lado da história? Porra, começou com três usuários de maconha e terminou com 70 presos. Setenta! Fazem isso nos pontos de tráfico, nas casas de prostituição, nos becos escuros da cidade?
Enfim. Meu assunto é outro.

Minha timeline normalmente é bem previsível. A grande maioria, 90% no chute, são colegas músicos e professores de música erudita, ou artistas de alguma outra área afim. É gente em geral libertária e cabeça aberta, a favor dos direitos humanos, dos direitos dos animais (tem VÁRIOS ativistas de direitos dos animais), mas não muito politicamente ativa (para o bem ou para o mal). Não que sejam ignorantes, mas a regra é aquela coisa senso-comum de que político é tudo corrupto, nenhum presta, etc etc, ou então simplesmente estão muito ocupados com estudo e trabalho pra pensar nessas coisas "tão distantes"... O legal é que posso postar minhas coisas subversivas (entre muitas aspas) sem queimar meu filme me preocupar, porque não tenho nenhum colega assumidamente conservador - graças a Bach não é legal no meu meio se mostrar homofóbico, racista, machista, etc, como sei que é em outros lugares. As pessoas pelo menos fingem ser corretas e inteligentes.

O chato de não gostar de política é ser influenciável, por não conseguir enxergar quais são e de onde vem as intenções por trás das palavras. Gente que até ontem não se importava, de repente está tomando partido. Qual partido? O primeiro que chegar falando bonito.

Foi uma sacada ótima da Veja colocar os estudantes da USP como "mimados". Juntou a raiva que as pessoas que viram tropa de elite I mas não gostaram do II têm dos maconheiros e drogados riquinhos - não estou dizendo que o usuário não tenha nada com isso, mas e o governo que não dá outra oportunidade pra piazada? E a educação que é falha? E a falta de emprego? E a própria cultura do "jeitinho? Nada disso conta? - com a consternação que alguns sentem diante da onda de ativismo cibernético que ganhou força esse ano blogs e redes sociais afora, que está incomodando muita gente.

Acho que para os que querem acreditar que são seres muito especiais, ao invés de só uma pecinha a mais na sociedade, deve ser bem chato ver gente fazendo alguma coisa pra melhorar seu entorno. Que saco, essa gente acha que vai mudar alguma coisa? Atitudes pequenas e simples já dão um desconforto de ver no noticiário, imagina ações grandes! Aí chega a Veja e diz: O cara que faz o motim lá, ele é um merda. Ele é maconheiro, ele odeia a polícia. Ele é hipócrita, ele se arrisca pra defender coisas sem nem saber o que (riolitros). Ele... que mais? É burro, bobo, feio, cara de melão. Se você também vive do dinheiro do papi, mas gasta tudo em balada e roupa de marca, tudo bem, pelo menos você não é um deles, ponto pra você.

Né? Grande sacada.

Eu também já pensei que tudo o que se tem que fazer é cuidar do próprio umbigo e esperar os bons resultados aparecerem. Que o lugar e a posição onde as pessoas estavam era fruto unicamente do esforço ou da falta de esforço delas, e que fazer algo pela coletividade é ficar pra trás, é perder um tempo que você poderia usar para investir em si mesmo. Mas algo no caminho me sensibilizou para ver que existem alguns outros detalhes (raça, gênero, idade, religião, "berço"... pra muita gente não é detalhe, infelizmente) que podem frear ou alavancar a vida das pessoas, e que essa situação pode e deve ser modificada. Se eu achasse que saberia o que fazer - algo mais razoável e eficiente do que o que me dá vontade (sair gritando de raiva e sacudindo as pessoas que não empatizam não adiantaria muito, né?) - eu saía por aí fazendo revolução também, pode apostar. Ando tentando fazer minha parte, discutindo, conversando, me metendo por aí. Tenho tudo pago, e se não tivesse, não teria tempo para nada disso, é verdade. Mas o problema disso é qual mesmo? É você se sentir fútil e vazio?

2 comentários:

Fernando Borges disse...

Ótimo post!
Olha, a mídia de fato estereotipa os alunos e não os retrata bem e muito menos aquilo pelo qual eles estão lutando.

Mas alguns grupos ali são sim extremados, outros, simplesmente se comportam de forma hipócrita e nada democrática.

A ocupação da reitoria, por exemplo, ocorreu contra a votação da maioria em assembleia que aconteceu no mesmo dia. Que democracia é essa que só é usada quando é conveniente?

E não podemos esquecer também a participação dos partidos (PCO, PSOL, PSTU etc.) e dos sindicatos em tudo isso e dos reais interesses políticos e de outros tipos que se camuflam nessa bandeira de "Fora PM" e "Fora Rodas".

A "greve" estudantil foi deicidida em uma assembleia que não reunia nem 2% dos alunos da USP e, por isso mesmo, a maior parte da universidade simplesmente não aderiu.

Mas na FFLCH, onde estão os mais mobilizados, as aulas estão interrompidas, mas não por consenso geral, mas por força!
Hoje mesmo cheguei na aula e todas as cadeiras de todas as salas haviam sido retiradas. Que democracia é essa em que você é obrigado a acatar a decisão de um minoria?

Enfim... Já falei muito rs
A questão é que as coisas não são tão simples como a mídia mostra, mas, ao mesmo tempo, muitos desses alunos estão longe de ser democráticos e "revolucionário" como querem parecer.

Abraço

Mariana K disse...

Ah, Fernando, tenho certeza absoluta que sim. Acompanhei as notícias da USP principalmente através de um amigo que estuda aí, e ele dizia exatamente a mesma coisa que você.
Só que gente extremada tem em todo lugar, né? Todos os movimentos sociais, todos os agrupamentos de gente eu acho, tem gente meio louca, gente chata, gente precipitada, e desclassificar qualquer reivindicação que se faça por causa das atitudes dessas pessoas é muito mesquinho. E é o que eu vejo acontecendo - tinha três fumando maconha, e de repente tem gente dizendo que estudante da USP é tudo vagabundo que só quer fumar em paz...