segunda-feira, 19 de março de 2012

Sete informações essenciais sobre anticoncepcional hormonal

Acho que, na minha geração e "nível social" (odeio essa expressão, mas...) quase toda mulher tem uma boa quantidade de experiências com contracepção. Para nós, o acesso à pílula e à camisinha está cada vez mais simples, barato e próximo, tivemos aquelas maravilhosas aulas de educação sexual no colégio, explicando como colocar uma camisinha com uma banana como "modelo"... E apesar de tudo isso, estamos longe do equilíbrio: a informação sobre contracepção existe, mas chega até nós de forma insuficiente, inexata, até meio supersticiosa, e mesmo assim, somos nós, as mulheres, as responsáveis quase exclusivas da tarefa de evitar filhos, e portanto também responsáveis quase exclusivas caso "algo errado" aconteça.

Escrevi um post que ficou quilométrico sobre minha experiência com contracepção, então separei-o em dois. Neste aqui, vou citar sete informações básicas sobre anticoncepcional hormonal que, infelizmente, nem todo mundo conhece. Boa parte dos itens dessa lista vieram de perguntas que ouvi no meu convívio social, de colegas do colégio particular, de colegas de faculdade, de parentes. Tudo gente "esclarecida" e "de bom nível", mas vítimas do silêncio sobre o assunto.

Essas informações vieram da minha experiência de ler minuciosamente as bulas dos vários anticoncepcionais diferentes que já tomei (sim, eu sou meio hipocondríaca), de acompanhar, de uma maneira geral, notícias sobre saúde da mulher, e de algumas pesquisas no google que fiz só para o post.
Espero que seja bom e útil.


1. Anticoncepcional nenhum te deixará estéril para toda a vida.
São métodos reversíveis. Nunca li em nenhuma bula nem sequer um efeito colateral que pudesse causar infertilidade.

2. Anticoncepcional não dá câncer. 
O número de casos de câncer de mama e de colo de útero é praticamente igual entre mulheres que usam e mulheres que não usam anticoncepcional, e como há vários fatores diferentes para o desencadeamento de qualquer tipo de câncer (genética, fumo, sedentarismo... vocês sabem), não dá pra dizer que ele seja um grande responsável. Existem, inclusive, evidências de que alguns anticoncepcionais até protegem do câncer.

3. Ter usado anticoncepcional não levará a malformações fetais numa futura gravidez.
Não tem nenhuma substância que possa ficar no seu organismo depois que você para de usar pílula ou injeção que tenha esse efeito. Os hormônios da pílula são sintéticos, mas são produzidos "imitando" os hormônios naturais que temos no corpo, inclusive os hormônios da gravidez (que fazem o feto ficar mais saudável, e não doente).

4. Anticoncepcional pode falhar sim, mesmo se você usar bem direitinho. 
Mas olha, tem que ter UMA SORTE... 

5. Anticoncepcional hormonal demora um certo tempo para ser absorvido e fazer efeito. 
Não dá pra fazer a injeção ou começar a tomar pílula no dia que você pretende dormir pela primeira vez na casa dele. Os hormônios trabalham para evitar que um óvulo fique disponível, mas eles não podem fazer nada se já tiver um óvulo disponível lá quando eles chegarem - e você pode ter ovulado, sei lá, ontem.
Normalmente essa adaptação é o tempo de um ciclo, uma cartela ou uma injeção, ou um mês. Se @ ginecologista não te disse nada, dê essa margem, só por via das dúvidas...

6. Não existe "anticoncepcional bom" e "anticoncepcional ruim". O anticoncepcional que a vizinha amou pode ser horrível para você. 
Não tem uma marca que engorde menos, outra que dê menos espinha, ou coisa assim. Tudo depende de achar uma pílula, injeção ou outros cuja fórmula fique em equilíbrio com suas quantidades naturais de hormônio. E isso varia de mulher para mulher, de corpo para corpo. 

7. Anticoncepcional é um medicamento, e como tal interage com outros medicamentos, 
portanto tem que ser mencionado na consulta médica!

Cansei de dizer para @ médic@ que não tomava remédio nenhum quando el@ perguntava, quando a consulta era feita por alguma gripe forte ou inflamação qualquer. Mas o fato é que anticoncepcional tem que ser, sim, mencionado. Primeiro porque há medicamentos que interferem na sua ação, como antibióticos. Segundo, porque alguns sintomas, como diarreia e vômitos, afetam, em si, o funcionamento dele. 
Tem que se ter em mente que nem @ médic@ tem obrigação de adivinhar o que você toma, nem tem direito de te julgar (acho que quase ninguém julga alguém por tomar anticoncepcional hoje em dia. Mas tem famílias que ainda tratam isso como uma coisa para se esconder, o que dá um sentimento ruim).

segunda-feira, 12 de março de 2012

Coletor menstrual: minha experiência

Escrevo hoje sobre minha experiência com coletor menstrual. Para quem ainda não teve contato com essa maravilhosa invenção da humanidade, vou esclarecer algumas perguntas comuns:
Imagem de Meluna

O que é? 
O coletor menstrual é um "copinho" ou uma "tacinha" feita de silicone cirúrgico, feito para coletar o sangue da menstruação. Agora parece que o nome é auto-explicativo, né?

Como se usa?
Você tem que posicionar ele , com o copo virado para cima, obviamente. :-P Como ele é feito de silicone, pode ser dobrado ou enrolado de várias formas, e quando você solta ele volta ao formato original, se adaptando às formas do corpo. A forma de colocar é como se fosse um absorvente interno, só que fica bem na entrada da vagina (não precisa "empurrar").
Para tirar, você tem que usar seus músculos pélvicos tipo um pompoarismo para forçar ele um pouquinho para fora, e puxar pela base.
Você tira, lava com sabão neutro e insere de novo - o que torna ele um produto bem ecológico, porque não gera resíduo, e econômico, porque não é descartável e você usa o mesmo por anos.

Como funciona? 
Seguindo a lei da gravidade - o que cai, fica coletado. O que você "sua" (a lubrificação natural) não é absorvido, o que faz o seu uso ser bem mais confortável do que um absorvente interno comum. A maioria das marcas tem dois tamanhos, que são adequados de acordo com a idade e o tipo de parto (se for o caso) de cada mulher, para o silicone ficar bem no formato do corpo e não correr o risco de nada vazar.

Coletor de glitter da Meluna
Minha experiência:


Uso um coletor menstrual, da marca Lunette, há mais ou menos três anos. Comprei pela internet, diretamente pelo site da fábrica, localizada na Finlândia. Não posso dizer se havia venda no Brasil naquela época, mas acredito que se havia, era algo muito underground, até porque mesmo hoje há poucos pontos de venda aqui. As marcas que mais tenho ouvido falar aqui no BR são a Misscup e a Meluna, mas há várias outras. Quando eu comprei, só havia um tipo de copinho, como esse aqui embaixo. Mas agora já se vê copinhos coloridos, com vários formatos e comprimentos diferentes de "puxadores" na base - tem até copinho com glitter, que é muito lindinho! 


Quando comprei, paguei 25 dólares, mas 20 dólares pelo frete, ou seja, mais ou menos 80 reais. Parece caro, mas pense só: um pacotinho de absorvente, que é o que eu usava a cada mês, custa em média quatro reais. Isso dá quase 50 reais por ano. Um coletor pode ser usado por mais de cinco anos (no meu manual, diz "de cinco a dez anos"). Deu pra fazer a matemática final?

Quando comecei a usar, minhas principais dúvidas eram essas:

- A colocação e retirada X minha tendência natural ao desastre
Há relatos, na internet, de mulheres que não conseguiram se adaptar ao coletor, que não conseguem colocar da forma correta, que sentem ele ao longo do uso, que o coletor vaza. Aconteceu comigo, na primeira vez que usei, de sentir E vazar - mas foi uma questão de sentir e adaptar. No segundo ciclo, já sabia bem o que tinha que fazer. 
Na retirada, quando eu li a descrição de como fazer, tive a impressão de que ia sempre fazer uma baita bagunça... Mas nunca fez. É difícil explicar, mas de alguma forma fica tudo no copinho tranquilamente. Claro que não é um processo muito rápido, tem que tirar com calma...

- O "nojinho":
pensei que ia ser meio estranho lidar tão diretamente com meu próprio sangue, mas foi muito diferente do que eu imaginava. O caso é que, em contato com o ar, o sangue oxida (ou coisa assim) o que faz com que ele mude de cor, de textura e de cheiro, e é esse processo que faz a gente ter um pouco de nojinho do sangue que fica no absorvente. Mas o sangue como está lá dentro do útero (e como fica no coletor) não tem nenhum odor. Outra coisa que muda: você vê que, na realidade, menstrua muito menos do que pensava, porque o absorvente comum "espalha" o sangue e dá uma impressão errada da quantidade.

- A limpeza:
pensei que talvez fosse correr mais risco de contrair infecções ou micoses, pela reutilização. Mas tem um esquema de fervura, para desinfetar o copinho, que deve ser feito antes e depois de cada ciclo. Claro que você tem que comprar uma panelinha só para isso, né. Mas é super fácil - ferve por cinco minutos, e é como uma autoclave. Nunca tive nenhum tipo de problema.
Existe aqui no Brasil uma cultura que engrandece demais o uso do que é descartável, como se a coisa ser descartável e vir embalada em bastante plástico garantisse algum tipo de pureza indescritível (porque plástico não suja, né). É um pensamento ótimo, para quem está vendendo o negócio que tem que ser comprado sucessivamente. Não sou especialista e não posso questionar isso de frente, mas tem outras questões: quem já leu a "bula" do o.b. sabe que, com seu uso, pode ocorrer síndrome do choque tóxico por proliferação de bactérias. E quem nunca teve irritação na pele por causa do material do absorvente comum? De onde vem esses problemas? Não sou de acreditar que é o meu organismo que está errado assim de cara, não.

... e a pergunta que não quer calar....

Se é tão bom, porque não ouço falar disso por aí?
Tenho minhas teorias sobre isso. Primeiro, porque menstruação ainda é tabu, infelizmente, e pouca gente divulga esse tipo de material (razão de eu estar fazendo isso aqui). Segundo e, principalmente, pergunte a si mesmo: o que seria da indústria das "fraldinhas" e "tampões" se tod@s conhecessem esse dispositivo, que é econômico, reciclável e ecológico, e que praticamente obriga a mulher a conhecer o próprio corpo? O que, ainda por cima, pode dar a ela recursos para fugir de enganações da indústria farmacêutica do tipo "sua vagina é naturalmente suja e você devia desinfetá-la com nosso sabonete caro", ou "se você se fere com o absorvente comum, é porque sua pele é sensível demais e não porque nosso material é grosseiro, compre o absorvente com ervinha tal adaptado para o seu caso"... etc etc etc...

quinta-feira, 8 de março de 2012

Mês de março, mês da mulher

Eis que chegou o dia internacional da mulher! Dia de receber rosas aleatoriamente e dia de ser a chata militante do facebook. De receber alguns bons elogios, e por outro lado passar um pouco de vergonha alheia (ou muita vergonha alheia) com homenagens toscas e exaltação ingênua ou não ao machismo. Mais um 8 de março como todos os outros anos.
Estou com pouco tempo para escrever, mas tem muitos textos bons para serem lidos por aí. Alguns:

Outros Marços virão, da Maíra Kubik, em Blogueiras Feministas

Compilação de eventos no 8 de março, nas Blogueiras Feministas

Feminismo em versão 2.0, na Gazeta do Povo

O dia (a dia) da mulher, da Aline Valek, em Contos e Notas

8 de março, dia de você repensar o seu machismo, no b33p

8 de março, mais um dia de luta, da Mari Moscou, em Mulher Alternativa

Tem muito mais por aí, que eu não pude incluir.

Alteração em 12/03: Blogueiras Feministas publica um post lindo: Dia da Mulher 2012, fazendo tipo o que eu fiz aqui, só que melhor. ;)

Ao longo do mês de março, para marcar essa data de outra forma, vou escrever alguns posts "temáticos" sobre minha vida de mulher e questões femininas que podem ser úteis e interessantes pra muita gente.

12 de março - minha experiência com coletores menstruais;

18 de março - minha experiência com contracepção;

25 de março - minha experiência com divisão de tarefas domésticas.

Até os próximos ;)