sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Introspectiva em recuperação

Ser tímidx não é fácil. Ainda mais quando, no fundo no fundo, você é ácidx, temperamental, de personalidade forte.
E ao mesmo tempo curiosx, abertx, generosx. E tudo isso com intensidade, com profundidade, ao mesmo tempo, agora.
O que as pessoas normalmente chamam de alguém "sensível".
Num mundo que está o tempo todo reforçando esteriótipos, quando você olha pra si e se vê assim múltiplx, é como se você fosse um monte de estilhaços.
Parece que é você que tem valores estranhos, e não a sociedade.
Se você está sozinhx, tudo toma proporções maiores ainda. As ideias podem se enrolar e deturpar sem nenhuma interferência. Inseguranças viram certezas, dúvidas viram pavores. E se você sabe ou pensa que não há alguém que vá lhe ouvir sem lhe desprezar, a solução mais óbvia é se fechar no seu próprio mundo e fingir que está tudo bem.
Até que um dia você percebe que, enquanto você espera a hora certa pra falar algo realmente legal, as pessoas estão pensando que você não tem nada pra dizer.
Que, por não querer que as pessoas tenham pena de você, você toma atitudes arrogantes.
Que por tentar não incomodar os outros com a própria estranheza, as pessoas te vêem como alguém que anda por aí se esgueirando.
E o que é pior: uma hora você percebe que ninguém está contra você. E que, às vezes, você mesmo vê outras pessoas assim.

Ninguém sabe se ela se esconde para se proteger ou para atacar
Quando adolescente, eu tentei me encaixar em vários grupos. Nunca consegui, e me arrependi de várias coisas que fiz.
Hoje, acho que nunca quis me encaixar em grupo nenhum. O que eu queria era ter uma referência, umas verdades absolutas para acreditar, regras pra nortearem a minha vida, coisa que não tive "de berço" e, pela imaturidade, não poderia estabelecer sozinha. Mudava de foco simplesmente porque não encontrava a verdade naquele grupo.
Se dar conta de que não existe verdade absoluta sobre o que é certo ou não é, sobre as pessoas, sobre você mesmo, talvez seja a parte mais difícil da vida dx tímidx. Se convencer de que você não tem obrigação de saber a reação das pessoas. De que não existe um culpado quando alguém não gosta do que você faz.

Hoje tenho algumas crenças, tenho algumas verdades em que acredito, mesmo sendo meio capengas.
Uma delas é de que, depois de tanto tempo fechada em mim mesma, tempo que passei lendo, estudando, ouvindo boa música, eu tenho sim algo a acrescentar, e que as pessoas podem sim se interessar pelo que eu penso. Quando a gente vai crescendo e virando gente grande, como diz uma amiga, se consegue uma certa autossuficiência em motivação, você é menos desengonçadx do que na adolescência, a vida vai se ajeitando, e você pode chegar à conclusão de que dá, sim, pra gostar de si, até com seus gostos e opiniões estranhos (volta e meia até se encontra gente que concorda!).
E a partir daí dá para se questionar até que ponto são as suas atitudes que fazem as pessoas não gostarem de você, até que ponto você é azaradx mesmo. Dá pra desenvolver a capacidade analisar seu próprio comportamento: o que eu penso/faço porque é o que eu acho certo, e o que eu penso/faço só porque alguém disse que deve ser assim?
E, a partir da reflexão, se corrigir. Cortar ou diminuir relações com pessoas que não acrescentam. Se policiar pra não ficar quietx, pra não fingir que não estou lá.
Outra crença que tenho é de que o problema que te que ser vencido não é algo meu, nem da sociedade, mas sim essa sensação de intervenção externa, como uma cortina de palco que baixa toda vez que eu vou ser protagonista. Acho que desenvolver espontaneidade é uma questão de simplesmente (simplesmente??) passar pelo meio do pano. É isso que tem que ser feito: Fazer. Fake it, until you make it. Estou me habituando a agir mais, falar mais, mesmo que eu não me sinta tão bem no começo. A ser o que me ensinaram que é ser intrometido, inconveniente: me importar, me impor, ir atrás.
Claro que às vezes caio no desequilíbro.
Ainda sou muito apegada à verdade, e me faltam várias verdades, acho que sempre vai faltar. Ainda me vem a sensação de vazio sob os pés, de vez em quando. E daí eu me fecho. Mas acho que faz parte. Um dia eu vou ser experiente nisso, e aí as coisas vão ser mais fáceis.

Tem um ditado japonês que diz assim:
Para atingir um determinado objetivo, você precisa tornar-se um tipo de pessoa. Uma vez que se torne essa pessoa, o objetivo não vai mais parecer importante.
Meu objetivo já foi saber me comunicar, ter muitos amigos, fazer as pessoas entenderem meus pontos de vista, entenderem quem eu sou. Sinto que estou no processo de me tornar essa pessoa comunicativa e acessível. E quanto mais comunicativa e acessível eu fico, mais eu vejo o quão pequeno é esse objetivo inicial. Quanto mais gente eu conheço, mais vejo que tenho muito pouco a oferecer. Menos convicção tenho nas minhas certezas pessoais, sobre o mundo, sobre mim mesma. O enriquecimento de conhecer as pessoas está em compreender, aprender, compartilhar, e não em ser compreendido.

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