terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Introspectiva em recuperação - a Música

Fim de semestre normalmente é tempo de provas. Mas por algum motivo, meus queridos professores -todos - resolveram pedir trabalhos finais ao invés de provas. E alguns desses trabalhos, para meu desespero, envolvem apresentações para a classe. Minha última apresentação foi semana passada, para uma multidão de dez pessoas. Gaguejei. Me perdi em slide de três linhas. Fiquei respirando curto por algum tempo antes e depois de subir no "palco". Mas foi. Saiu.
Um dos comentários da banca, depois de eu terminar, foi algo parecido com "Como é bom a gente que é músico poder se apresentar sem ter aquela sensação de palco". Só se for pra ti, cara-pálida.

Naquele momento pensei como é engraçado odiar falar em público mas ao mesmo tempo não ter grandes problemas em tocar para público. Meu recital de graduação foi maravilhoso, errei algumas coisas como qualquer estudante, mas curti cada minuto de música, e realmente adorei me comunicar com as pessoas que estavam lá. Aí comecei a pensar sobre o efeito que a música tem na autoconfiança - sei que existe muita literatura sobre musicoterapia, mas eu confesso que não li muito a respeito não. Vou escrever aqui algumas reflexões que fiz depois da situação lá de cima, porque acho que dá pra relacionar com várias outras áreas profissionais e também com coisas do dia, da convivência e do autoconhecimento.

C. Leko Machado. Bagé, 2010.  Essa mão é a minha mão :)
- As pessoas em geral não vão a um espetáculo para procurar notas certas ou erradas, e nem conhecem a música que você vai tocar tão a fundo quanto você. Então, quando você está no palco, não interessa tanto se a nota que você acabou de tocar estava certa ou não. Como o palco é o lugar e a hora crucial onde coisas que se pode errar coisas que nunca se errou antes, encarar isso é fazer cara de paisagem e ir adiante, porque o público quer espetáculo, e o espetáculo não inclui a sua opinião sobre o que foi feito. Por isso acho a arte performática ao mesmo tempo que é extremamente egocêntrica (você sobe no palco porque tem algo a dizer, enquanto o público recebe tudo passivamente) é um ato de extrema renúncia, porque você tem que apresentar como puramente seu o que às vezes não é exatamente seu porque você gostaria que fosse diferente.
Assim também é quando se improvisa. A maior necessidade pra saber improvisar é aceitar o primeiro impulso (o famoso feeling), ter consciência de que ele vem do que você sabe, do que você estudou, e não do além, e principalmente entender que não existe certo e errado na criação, e sim caminhos diferentes. Não quer dizer que você tem que gostar de tudo o que faz, mas sim que certas coisas são simplesmente para serem aceitas.

- Quando você estuda algum instrumento ou canto, estuda por tabela o seu corpo, como funcionam os músculos, a coordenação, os movimentos que ele faz, e acaba ficando muito mais consciente de si e consequentemente da forma com que os outros te vêem. Não é à toa que tem tanto músico lindo, hehehe. No começo todo mundo reluta, acha estranho ver filme de si tocando, ou tocar na frente do espelho. Mas esse aprendizado normalmente acaba melhorando a auto-imagem das pessoas, pelo que eu sei de mim e dos meus alunos. E acho que é uma coisa que só com música a pessoa se convence a fazer (a menos que exista alguém que treina discurso na frente do espelho que nem o bonequinho do The Sims 1, e eu não saiba! Sei lá! hehehehe).

Então, serviu pra alguma reflexão? Espero que sim! :)

Um comentário:

Vinicius disse...

Oi! Te vi no site da Lola!

Gostei do texto. Posso contar duas experiências minhas a respeito?

As últimas duas "coisas" que eu fiz em público, forma, respectivamente, defesa do meu TCC pra banca avaliadora e primeiro show com minha banda (de rock psicodélico/progressivo).

Ok, aí fica aquele pensamento, eu defendi a tese pra três pessoas, toquei pra umas 50. O que seria mais fácil? Eu domino tanto a guitarra como o meu TCC... No entanto, foi quase um desastre! Suei frio, me enrolei, tentei fazer um personagem, foi uma merda! Uma imensa merda! Mas eu consegui falar o básico e fui aprovado - Finish, estou formado sem honras.

No show, meu primeiro show, primeiríssimo, eu estava mais nervoso com a ideia de ser o primeiro show do que com a situação em si. A banda que eu toco é TOTALMENTE livre pra improvisos, metade da alma são os improvisos. Quando começamos nossa primeira música, eu estava com o coração batendo rápido, meio ofegante, aí errei as primeiras notas! Puta que pariu! Foi terrível!
Porém, em seguida, começou a parte onde a guitarra fica mais participativa, aí foi maravilhoso, pois eu fiz uns riff's muito bons e percebi que o público estava (vejam só!) prestando atenção!

Em uma outra música, onde eu toco uma introdução, cheguei a errar a nota e tive que fazer um rodopio na escala pra não parecer erro (digamos que, por uma fração de segundo, eu morri). Mas, e aí que tá, foi MUITO mais fácil.

Eu não garanto que a não-necessidade de acertar tudinho tenha sido o ponto que me fez ficar confiante... talvez a noção de que eu sei mais do que aquelas pessoas sobre as músicas que estávamos tocando tenha dado confiança (não me julgue, arrogância chega a ser uma defesa, neste casos).

Bom, por fim, é isso aew. Quero música pro resto da minha vida.