sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Blogagem coletiva: o caso de Queimadas

Escrevo esse post atendendo à chamada para Blogagem Coletiva das Blogueiras Feministas e da Luluzinha Camp, em repúdio ao mais recente caso de violação da dignidade das mulheres (sim, porque eu também me sinto estuprada), na cidade de Queimadas, na Paraíba, pouco comentado na grande mídia, pouco comentado nas redes sociais, difícil de se falar sobre, difícil até de acreditar pelo tamanho da barbárie.





O caso me fez pensar no esteriótipo de agressor de que crescemos tendo medo, e que é, na verdade, muito pouco comum: o agressor psicopata, perturbado mentalmente, que ataca qualquer uma que ande sozinha em alguma rua escura.
O agressor, na verdade, está quase sempre por perto. É um vizinho, conhecido, parente, e não se pensa nele como um perigo a priori.

(...) Em estudo mais recente, Pimentel et al. (1998), analisando dados de estupros coletados em 50 processos referentes às cinco regiões brasileiras, concluíram que 70% dos envolvidos se conheciam e, destes, 18% mantinham relacionamentos incestuosos. (Fonte)

Confiando na amizade ou no amor dos laços de sangue, as vítimas não tomam "precauções" contra esses estupradores. O caso de Queimadas foi um exemplo extremo, brutal, dessa lógica. Mas estupros e abusos partindo de conhecidos infelizmente acontecem a todo momento, em qualquer lugar. Os que não viram notícia, talvez, fiquem anônimos porque não terminam em assassinatos. E a cultura de relativização do sofrimento, de tratar de estupro como se fosse sexo normal e de culpabilizar da vítima, além de aumentarem a dor de quem sofreu a violência, aumentam a possibilidade do violentador não ser denunciado e de a violência se repetir ou até se estender, às vezes, por anos. 

Casos como esse só vão parar de aparecer no dia que começarmos a educar os meninos, sistematicamente, para não estuprarem, ao invés de tentarmos ensinar as meninas a "se defenderem" e "tomar precauções" contra a violência. Quando colocarmos a culpa na pessoa certa - no criminoso, não na vítima, e entendermos que tem que ser vigiado e limitado é o desejo de poder e descontrole dos estupradores, e não o horário e as ruas que se circula, ou o comprimento da saia, ou a quantidade de parceiros, ou as "companhias", ou...
Enquanto esse dia não chega, só espero que esses criminosos tenham uma pena proporcional à sua crueldade.

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